Mais de dez anos depois de o PT ter
chegado ao poder no governo federal eu continuo impressionado como quase todos
os coleguinhas da cobertura política da mídia comercial ainda não entendem a
dinâmica interna do partido.
Mais de dez anos
depois de o PT ter chegado ao poder no governo federal eu continuo
impressionado como quase todos os coleguinhas da cobertura política da mídia
comercial ainda não entendem a dinâmica interna do partido.
É claro que, muitas
vezes, alguns usam as diferenças de disputas internas do PT com os demais
partidos para estimular aparentes contradições. Não há só ingênuos, há os que
querem ser muito espertos.
Acostumados com o
modo de funcionamento das outras siglas, muitos não compreendem a profunda vida
interna petista. Mesmo agora, com a diminuição da rica diversidade que
caracterizava o partido nas décadas de 80 e 90, ainda somos muito diferentes
dos demais. E os repórteres de política não alcançam isso. Eles medem todos
pela mesma régua dos partidos tradicionais.
Este fim de semana
a revista Época acaba de dar mais uma demonstração dessa ignorância. Uma
repórter fez uma extensa matéria falando do candidato “inventado” Fernando
Haddad. O fio condutor da matéria é que Haddad não é um petista típico. Alguns
dos argumentos: filosofa em alemão, é amigo de tucanos e “tem postura crítica
em relação a várias posições abraçadas pelo PT”. Seria difícil encontrar algo
mais superficial e equivocado. Em primeiro lugar, demonstra o mesmo preconceito
da época do surgimento do PT: éramos uns ignorantes de macacão e nos
escondíamos atrás das barbas fartas para não demonstrar a incapacidade de falar
português, quanto mais alemão.
Também éramos
bichos do mato, pois não tínhamos capacidade de formar amizades fora do
restrito círculo das pessoas com estrelinhas no peito. Mas esses são
preconceitos comportamentais que diminuíram com nossa proximidade - e gosto -
com o poder. Mas o fato de Haddad não concordar com todas as posições das correntes
majoritárias no PT confirma a ignorância sobre o debate interno do partido.
Haddad é acusado de ter assinado o manifesto que propunha a refundação partido
em 2005 e por outras insurgências contra a direção partidária. Tudo para
comprovar a tese de que ele não é um “petista de carteirinha”. A mesma tese que
foi - e, alguns casos, ainda é - usada contra Dilma. Parece brincadeira de
criança: estimular a divisão interna para derrotar o inimigo. A matéria diz que
Haddad “não é da turma”, numa tentativa ambígua de falar bem e mal ao mesmo
tempo do provável futuro prefeito de São Paulo.
Essa imprensa não
consegue entender que o que resta de debate interno no PT, com toda sua riqueza
de contradições, é o que nos assegura a capacidade militante do partido em continuar
conectado com as aspirações da maioria da população. São essas divergências que
alimentam a relativa não acomodação aos estamentos de poder e nos levam às ruas
para ouvir a indispensável vontade popular capaz de construir programas de
governo que atendem as necessidades da população e alimentam a esperança de
continuar mudando a sociedade.
Enquanto os nossos
inimigos continuarem com essa visão superficial e simplista da vida política
dentro do PT nós continuaremos crescendo. Ainda mais se incentivarmos a
renovação de quadros e, logo mais, de direção do partido para continuar nossa
trajetória de apresentar à sociedade propostas para avançar na democratização,
na justiça social e na inclusão.
José Roberto Garcez é jornalista
Fonte: www.pt.org.br
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